Eu achei que nunca fosse conseguir terminar de ler esse livro. E quando eu terminei de ler foi um alívio. Eu li até o fim na esperança que melhorasse, que o final fosse maravilhoso e que por isso compensasse a chatice que foi até chegar a esse final maravilho e nesse livro de maravilhoso não houve nada. O fim foi tão chato quanto foi o ínicio e o meio. Fiquei na mesma. Não entendendo nada.
Enrolei a beça de ler esse livro, porque além de ser exaustivo, desinteressante, monotóno e sem nexo, eu tinha outros livros pra ler, os de direito.
Eu estava há muito tempo querendo ler um livro de Clarice Lispector e fiquei querendo ainda mais depois de ir a uma exposição sobre ela no Centro Cultural do Banco do Brasil. Tava querendo ler a "Hora da Estrela", mas foi esse que eu consegui arrumar pra ler. Daí que eu li mais pra dizer que eu já alguma vez na vida Clarice Lispector. Eu não sei se vou ter coragem de ler "A hora da Estrela" depois de ler esse livro, que eu enrolei por mais de 3 meses. Um livro de um pouco mais que 200 páginas, mas rendeu como se fosse uma bíblia.
Eu não queria ficar só falando mal desse livro e de Clarice Lispector e desencorajar novos leitores. Mas é que eu não gosto desse tipo de leitura muito introspectiva. É muito depressivo que chegava a me contagiar.
Esse foi o último livro que li no ano de 2008. Li apenas 7 livros e espero que em 2009 eu possa e consiga ler mais. Vou ver se consigo ler só nessas férias uns 3 logo de uma vez.
Agora vai um trecho que eu achei bem interessante. Em alguns momentos eu me envolvia e compreendia o que ela dizia, mas em outros eu simplesmente passava os olhos, não conseguia absorver nada e só no ínicio do livro que eu me dava o trabalho de voltar a página pra ler de novo, depois isso foi ficando chato ¬¬
"Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me epalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma. Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita. É que me descubro de outra qualidade. Depois de não me ver há muito quase esqueço que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quando uma coisa apenas viva, Também me surpreendo, os olhos abertos para o espelho pálido, de que haja tanta coisa em mim além do conhecido, tanta coisa sempre silenciosa. Por que calada? Essas curvas sob a blusa vivem punemente? Por que caladas? Minha boca, meio infantil, tão certa de seu destino, continua igual a si mesma apesar de minha distração total. às vezes, à minha descoberta, segue-se o amo por mim mesma, um olhar constante ao espelho, um sorriso de compreensão para os que me fitam. Período de interrogação ao meu corpo, de gula, de sono, de amplos passeios ao ar livre. Até que uma frase, um olhar - como o espelho - relembram-me surpresa outros segredos, os que me tornam ilimitada. Fascinada mergulho o corpo no fundo do poço, calo todas as suas fontes e sonâmbula sigo por outro caminho. - Analisar instante por instante, perceber o núcleo de cada coisa feita de tempo ou de espaço. Possuir cada momento, ligar a consciência a eles, como pequenos filamentos quase imperceptíveis mas fortes. É a vida? Mesmo assim ela me escaparia. Outro modo de captá-la seria viver. Mas o sonho é mais completo que a realidade, esta me afoga na inconsciência. O que importa afinal: viver ou saber que se está vivendo? - Palavras muito puras, gotas de cristal. Sinto a forma brilhante e úmida debatendp-se dentro de mim. Mas onde está o que quero dizer, onde está o que devo dizer? Inspirai-me, eu tenho quase tudo: eu tenho o contorno à espera da essência; é isso? - O que deve fazer alguém que não sabe o que fazer de si? Utilizar-se como corpo e alma em proveito do corpo e da alma? Ou transformar sua força em força alheia? Ou esperar que de si mesma nasça, como uma consequência, a solução? Nada posso dizer ainda dentro da forma. Tudo o que possuo está muito fundo dentro de mim. Um dia, depois de falar enfim, ainda terei do que viver? Ou tudo o que eu falasse estaria aquém e além da vida? - Tudo o que é forma de vida procuro afastar. Tento isolar-me para encontrar a vida em si mesma. No entando apoiei-me demais no jogo que distrai e consola e quando dele me afasto, encontro-me bruscamente sem amparo. No momento em que fecho a porta atrás de mim, instantaneamente me desprendo das coisas. Tudo o que foi distancia-se de mim, mergulhando surdamente nas minhas águas longínquas. Ouço-a, a queda. Alegre e plana po mim mesma, espero que lentamente me eleve e durja verdadeira diante dos meus olhos. Em vez de me obter com a fuga, vejo-me desamparada, solitária, jogada num cubículo sem dimensões, onde a luz e a sombra são fantasmas quietos. No meu interior encontro o silêncio procurado. Mas dele fico tão perdida de qualquer lembrança de algum ser humano e de mim mesma, que transformo essa impressão em certeza de solidão física. Se desse um grito - imagino já sem lucidez - minha voz receberia o eco igual e indiferente das paredes da terra. Sem viver coisas eu não encontrarei a vida, pois? Mas, mesmo assim, na solitude branca e limitada onde caio, ainda estou presa entre montanhas fechadas. Presa, presa. Onde está a imaginação? Ando sobre trilhos invisíveis. Prisão, liberdade. São essas as palavras que me ocorrem. No entanto não são as verdadeiras, únicas e insubstituíveis, sinto o. Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome. - Sou pois um brinquedo a quem dão corda e que terminada esta não encontrará vida própria, mais profunda. Procurar tranquilamente admitir que talvez só a encontre se for buscá-la nas fontes pequenas. Ou senão morrerei de sede. Talvez não tenha sido feita para águas puras e largas, mas para as pequenas e de fácil acesso. E talvez meu desejo de outra fonte, essa ânsia que me dá ao rosto um ar de quem caça para se alimentar, talvez essa ânsia seja uma idéia - e nada mais."